Rotina 24 X 7

Desabafo de Thaisa Bacco

O título parece estranho, mas se lê assim mesmo: rotina 24 por sete. Quer dizer: trabalhar vinte e quatro horas por dia durante os sete dias da semana. Essa é a sensação que temos hoje quando os compromissos nos saltam aos olhos via computador a qualquer momento. O que resta? Reclamar dessa insanidade que demonstra ser a vida no século XXI para todos nós? Com licença que preciso olhar pra trás.

Verão de 95 a verão de 98
Há pouco mais de uma década e meia também não sobrava muito tempo na agenda. O despertar era cedo, a correria durante todo o dia. Às vezes, algumas madrugadas em claro para dar conta dos trabalhos da faculdade e dos freelas que apareciam de vez em quando.
Difícil era ter tempo de assistir TV. Duas ou três edições de jornais eram lidas no ônibus (eu conseguia ler no trânsito!!!) , ou nos intervalos da aula sentada nos bancos da UEL saboreando um pão de queijo. No horário do almoço, dezenas e dezenas de ligações a procura por fontes, em busca de informações para as malucas pautas que sugeríamos diariamente aos professores. À tarde, o silêncio da biblioteca era muito sagrado para “devorarmos” livros e tentar dar conta da bibliografia simplesmente básica sugerida pelos docentes.
Aos sábados, participávamos de projetos de extensão das mais diferentes origens. Quanto mais distante do centro e mais distante da nossa realidade, mais prazeroso era. Chocar-se e revigorar-se semanalmente, como era bom! E à noite, nada de descanso! Estávamos juntos para conversar ou curtir um bom programa cultural, como os concertos matinais no Ouro Verde.
A sessão de cinema era sagrada aos domingos. Nem que fosse no último horário, às 21h30 ou 21h45. Imperdoável passar uma semana sem um bom filme, poderia soar como um vazio sem fim.
Boa parte da minha faculdade, cursada em Londrina, foi assim. Já no primeiro ano a vida deu um nó tão grande que só restaram duas alternativas: tentar tirar proveito daquilo ou morrer enforcado. Nem todos sobreviveram. Chegamos a pensar que o desafio estava vencido com o diploma conquistado. Baita ingenuidade juvenil! Vieram desafios mais gigantescos pela frente.

Outono de 2011
Essas histórias se revigoram com muita frequência quando observo hoje as atividades dos nossos estagiários da TV Facopp, a primeira emissora televisiva universitária da região, a qual no mês que vem completa 3 anos, com mais de 54 mil acessos. Só quem está na equipe sabe com exatidão o trabalho que dá para colocar no ar cada produto audiovisual. Ao invés de sermos sucumbidos por um nó, que se desenrola em quatro anos, vejo que nós mesmos somos as dezenas de nós que surgem a cada dia na sociedade contemporânea. Somos nós quase que sufocando a mais pura vontade de fazer o melhor.
O problema é que evoluímos e conseguimos fazer mais em menos tempo, porque temos a tecnologia a nosso favor. Mas parece incrível como a sensação de derrota é tão comum. Que paradoxo! Antes eu precisava de dois dias para localizar alguém. Hoje, resolvo isso em alguns cliques. Menos de cinco minutos parece razoável para buscar a fonte no ciberespaço. O que faço com as outras 47 horas e 55 minutos que me sobraram? Cuido da vida dos outros, leio horóscopo, como chocolates e alimento-me da angústia de ver o tempo passar e não produzir... Assim, as consequencias são mais desastrosas do que o fracasso por desconhecimento das coisas. É o peso do fracasso moral que nos aflige. É a capa do super herói que fazemos questão de vestir sem antes perguntar para quê este fardo vai nos servir.
Caros, estou muito incomodada com a condição 24 por 7 que impusemos para nós mesmos, sem conseguir separar aquilo que nos move: o trabalho, o conhecimento e a família. A minha proposta é viver 4 por 5 aqui na TV Facopp. Mas que esta vivência em menos tempo seja mais intensa, mais verdadeira. Desamarrando nós como aprendemos e sem tempo para lamentações. Acho que precisamos de mais pontos para encurtar os caminhos. Afinal, por que os alongamos se a tecnologia nos imprime a condição de velocidade em tudo que fazemos? Não sei, preciso pensar mais sobre isso.

Vale o esforço de lutar contra a condição do tempo que a própria humanidade impôs aos homens? Poderíamos usar esse tempo para desfazer alguns nós.

Comments

  1. Quero um dia poder contar minhas histórias!! Este post serve para mim com incentivo. Valeu Thaísa.

     

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