O ato de ouvir

Por Roberto Mancuzo
Na última reunião geral da TV Facopp, a professora Thaisa fez uma colocação importante: todos nós precisamos aprender a ouvir mais. Seja na apuração de uma pauta, na rua diante de um entrevistado ou, em uma simples conversa informal ou não, uma das maiores qualidades de um profissional da área é manter a alma aberta para as histórias do mundo e outras opiniões. Isso exige, claro, uma boa dose de humildade e vontade crescer. No mesmo instante eu lembrei de um texto do Rubem Alves, que por acaso havia lido há pouco tempo, e que reproduzo aqui para que a gente possa pensar mais sobre isso:

“O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com a cabeça mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica reconhecer que somos meio cegos... Vemos pouco, vemos torto, vemos errado. Bernardo Soares diz que aquilo que vemos é aquilo que somos. Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parênteses, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões. Minhas opiniões! É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que eu penso, depois de terminada a sua fala eu ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer: "Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que você disse. Aquilo que você disse não é o que eu diria, portanto está errado..."."

Vamos colocar nossos ouvidos para trabalhar. Talvez eles estejam preguiçosos demais!

Comments

  1. E como é difícil ouvir em um momento que vc tem de disputar o tempo dos outros para poder falar. Eu topo o desafio do Mancuzo de "fazer acordar" os meus ouvidos. Alguém mais quer participar do desafio?

     
  2. Eu topo. Porque muitas vezes estamos ocupados demais, com pressa demais para ouvir o que outro quer nos contar...ele só precisa de um momento, de uma pausa e um olhar(nosso) dando vez ao que tem para dizer.

     

Postar um comentário