A pergunta certa

Por Roberto Mancuzo

A cena impressionou. O goleiro Rogério Ceni foi cercado, ao final do jogo deste domingo (27/03) entre São Paulo e Corinthians, por um batalhão de repórteres, que se acotovelavam e se empurravam, com “sangue nos zóio”, na tentativa de conseguir uma palavra do jogador que havia acabado de fazer seu centésimo gol como profissional. Os jornalistas queriam, lógico, alguma boa declaração para coroar aquilo que Ceni já havia feito de espetacular.

O goleiro queria, naquela hora, era comemorar junto à torcida e com os outros jogadores. E as perguntas iam saindo, uma a uma, todas ao mesmo tempo, um “vuco-vuco” de dar gosto, e Rogério ia dando respostas meio evasivas, sem graça. Até que, de repente, uma pergunta o fez parar praticamente e dar uma resposta boa, daquelas que emocionam. “Rogério, Rogério, de quem você lembra nesta hora?”

O que o autor da pergunta, o repórter Bruno Laurence, da Rede Globo, fez para garantir atenção do entrevistado naquele momento de caos? Além da pergunta correta, humanizou a entrevista. Até então, tudo era chato e técnico demais para Rogério, que só se sentiu empolgado a parar e dar uma boa resposta quando alguém lhe cutucou emocionalmente.

Humanizar uma entrevista é isso. É buscar no entrevistado aquilo que realmente ele quer, aquilo que o coração pede. Poucos jornalistas conseguem isso, porque insistem em ser burocráticos, inanimados. Se você quer a atenção de alguém em uma entrevista, iguale-se ao entrevistado em humanidade. De robôs e máquinas, já estamos cheios.

Comments

  1. Muito boa a observação, o jornalista foi muito inteligente!

     
  2. Um dia eu alcanço essa competência do Mancuzo.
    Quem viver, verá!

     
  3. Vou contribuir com uma frase que uso em sala: "Saber perguntar é quase uma arte". Especialmente no telejornalismo. Valeu Mancuzo por essa observação.

     

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