VIVER NÃO É PRECISO

Por Renato Pandur

A TV Facopp chega a mais uma conclusão semestral e mais uma vez o discurso parece ser o mesmo. Algumas pessoas saem, outras entram e assim a história da TV é contada dia a dia, ou como gosto de pensar, sistematizar ou planejar, semestre a semestre.
A pergunta que me fiz esta semana é: Planejar o que?
Desde a seleção da equipe de publicidade até esta última semana o que tenho feito é planejar, organizar. Algumas situações me fizeram refletir sobre o tema. A própria escolha da equipe de publicidade revelou que o planejamento sistemático é uma máscara enganadora da realidade.
A Mariana é um ótimo exemplo disso. Tínhamos planejado aumentar o número de vagas e após as entrevistas decidimos abrir mais uma vaga para a Mariana. Que surpresa! Participativa, opinativa, realizadora entre tantos adjetivos que ela carrega me surpreenderam neste semestre. Não... não era planejado.
A Suzanne e a Giovana, nos limites das suas participações foram mais longe do que esperava. Na hora que precisamos elas estavam lá. Pode não parecer, mas deixaram mais um tijolinho na história da TV.
O Diego, supervisor. Planejamos este cargo novo, se desdobrou em vários para dar conta das responsabilidades da universidade e da TV. Sentiu de perto como é estar a frente de uma equipe. Foi como planejamos? Se não foi tão brilhante, essa vivência lhe serviu para mostrar caminhos do seu perfil, o que precisa melhorar e o que tem de melhor. O interesse pela TV desde o primeiro dia em que veio falar comigo já me basta. Ele quis APRENDER.
Da mesma maneira o Nishizima que logo que chegou achou seu espaço com a edição dos vídeos. Vai crescer mais ainda, eu garanto. Em sua entrevista jamais imaginei que ali naquele garoto existia este interesse. Mais uma vez o meu planejamento sucumbiu.
O João um pouco tímido. Precisa se soltar mais. Medo? Insegurança? Não sei...Tem a vontade de aprender como todos. A minha ideia era utilizar o João como homem forte na produção. Pela sua timidez se soltou agora no final. Planejei esse ritmo para ele? Não.
Influenciado pelo Diego apareceu o Leonardo para fazer parte da equipe. Sua facilidade era com pesquisa mas ao longo do caminho foi sugerindo boa parte do novo videografismo da TV. Participação total via MSN nos horários mais improváveis.Assim como o João surgiu meio tímido e foi arregaçando as mangas ao longo do estágio.
O Everton tinha um perfil que precisava naquele momento. Talvez de todos que citei foi o que menos me surpreendeu. Entenda, não falo de surpresa em caráter negativo, mas sim de desvio de planejamento. Pró ativo, inteligente e ligado nas redes sociais cumpre sua função com maestria.
O que quero dizer é que tenho refletido seriamente no desafio de mudar a maneira como encaro o trabalho. Pierre Levy, filósofo contemporâneo disse muito antes do “boom” da internet que a web mudaria o jeito das pessoas se relacionarem. Inclua-se mercado de trabalho e aprendizado. A comunicação de um para muitos sucumbe à de muito para muitos. Esse é o barato da construção do conhecimento e comunicação na contemporaneidade. Ensinar e aprender ao mesmo tempo.
Fernando Pessoa disse em um dos seus belos poemas: Navegar é preciso, viver não é preciso.
O espírito dessa frase é que me fez refletir sobre a maneira como encaramos o trabalho. Em Lisboa, no séc. XIX a vida em terra firme era melancólica e sem aventuras, ao contrário da vida nos mares que retratavam a busca pelo desconhecido. Essa era a tônica da frase de Drummond. Busque o mar, navegue, se arrisque.
Em contra partida a frase pode fazer referÊncia também que Navegar é “preciso”. Uma bússola vai te levar precisamente aonde você quer chegar. Viver não é “preciso”. Não há precisão nenhuma em nossas vidas. O que se planeja hoje pode mudar amanhã.
Como podemos trazer essa metodologia e planejamento para o nosso dia a dia no trabalho? Antes de uma empresa, somos pessoas. Não podemos encarar o trabalho como uma expressão científica. O que tenho visto são as empresas e instituições assassinando criativos. O trabalho e o aprendeizado muda conforme as pessoas.
Neste semestre percebi isso e a questão é: Como encontrar o equilíbrio entre a responsabilidade de colocar uma campanha ou um programa no ar sem matar nossa criatividade com essa “precisão” imposta pelo dia a dia?
Uma coisa é certa. Na última reunião que tive com os coordenadores da TV pude reafirmar o que me agrada mais na TV Facopp. Aqui nós podemos DISCUTIR E REALIZAR. Sem estrelismos ou burocracias.
Um grande abraço aos meus amigos alunos que muito me orgulham. Vamos viver porque navegando já estamos.


Comments

  1. Um bom planejamento tem a obrigação de surpreender e deve fugir do que foi planejado!
    Muito bom texto Pança!
    Abraços,

    Vitor Estrada

     
  2. Em uma constelação, cada astro tem seu brilho próprio, que somando uns aos outros, proporciona um espetáculo inimaginável. Na TV Facopp é o mesmo, cada talento individual, e a seriedade com que os assuntos são tratados, fazem com que a cada dia, consolide uma referência e um orgulho a todos os egressos desta instituição.
    Parabéns Pandur por sua dedicação.

    Lucas Prette

     
  3. Tudo que não é "quase" planejado nos surpreende. É assim que me sinto em relação ao estágio na TV Facopp. Ótimo texto Pandur, como sempre! Parabéns!



    Mariana Moura

     
  4. Pandur, durante todo o semestre a opinião que mais me marcou sobre o projeto foi sua na última reunião da coordenação que tivemos: no barco da TV Facopp é possível FAZER, CRIAR, SENTIR O VERDADEIRO GOSTO DA LIBERDADE, TESTAR NOSSA CAPACIDADE DE RESPONSABILIDADE DIANTE DO NOVO. Na verdade é isso: queremos NAVEGAR E APRECIAR O CAMINHO QUE ESTAMOS PERCORRENDO, ainda que seja cheio de icebergs. Experimentar é isso: errar, acertar, mas deixar de lado a medíocre posição de fazer sempre o mesmo, numa posição de inércia sem fim. E QUE VENHA 2º SEMESTRE DE 2010...

     
  5. Como sempre, seus textos permitem que a gente "navegue" e leve a reflexão pra onde ela se encaixar melhor...
    No dia a dia, a gente percebe o quanto se deve planejar, mas percebe ainda mais o quanto o acaso (pra quem preferir chamar assim), ou o destino (sinta-se a vontade pra pensar assim também), ou o Dinivo, nos mostra que por mais que calculemos o futuro, ele acontece como deve ser... e resta a nós, planejar a nossa porcentagem de interferência nisso tudo.

     
  6. planejar, planejar e planejar... a única coisa que afirmo é que isso tudo só vale quando é relizado!

     
  7. Um verdadeiro pensandor heim fio! Ótima abordagem e reflexão.

     
  8. Concordo com tudo que você disse.
    Pra mim, o planejamento tem que ser uma ideia, um norte, não um padrão! Uma gaiola criativa.

    Tá na hora de criar mais e filosofar menos!
    Somos seres pensantes, não macacos falantes.

    Parabéns pelo texto!!!
    Abraços!!!

    PS: Na minha época você não puxava saco não! Hein? hehehe =D Olha só!

     
  9. Panda, vc (acredito eu) é o idealizador disso, junto a esses alunos e outros que passaram, não tive a oportunidade, mas participo acessando. abraço Matusa.

     
  10. EU ESTAREI PRESENTE COM VCS NO PRÓXIMO SEMESTRE.
    O IMPORTANTE DE TUDO É NÃO DESISTIR E ACREDITAR!!!!

    BEIJOS, CAROL

     

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